Questão criminal, segregação socioespacial e a realidade urbana no Brasil

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Atividade correspondente ao Filme “La Zona” diretor Rodrio Plá. e o livro Cidade de Muros – Crime, segregação e cidadania em São Paulo de Teresa Pires do Rio Caldeira.

A questão criminal, segregação socioespacial e a realidade urbana no Brasil.

Texto desenvolvido por Alessandra Klein, Nicoly Dominiqui e Vitor Lima.

No filme fica evidente questões típicas sociais de diversos países – cenário também visto em filmes nacionais, tais como, a Cidade de Deus e Tropa de Elite – de violência urbana, segregação, corrupção e divisão entre classes.
Em suma, o filme retrata a história de três jovens que vislumbram a oportunidade de invadir um condomínio de luxo, na Cidade do México, e acabam por fazê-lo. Ao tentar assaltar uma residência, acabam assassinando uma moradora. A empregada, ao ver a ação corre e aciona ao alarme, consequentemente os guardas perseguem os assaltantes, meio a troca de tiros, resulta em dois assaltantes mortos e um guarda, alvejado por um condômino. O terceiro garoto consegue fugir, e começa então sua tentativa de sobrevivência naquele meio hostil, cenário de “guerra fria” que fora instalado, caçado pelos condôminos, que decidiam suas ações mediantes assembleias, abarcados por subornos e corrupção.
A história nos apresenta exemplos dessa ficção em situações reais como: o Apartheid, o qual refere-se a um regime de segregação racial implementado na África do Sul em 1948 e perdurou até o ano de 1994, em que os direitos da maioria dos habitantes foram restritos a minoria branca no poder, a segregação
racial que teve fim por meio do Tribunal Superior nos Estados Unidos em meados de 1954, fato esse que gerou resistência e represália por parte dos brancos.
Além desses fatos, é possível fazer uma leitura de quão é preocupante o momento vivido pela sociedade, em que muros são erguidos nas cidades atribuindo “falsa sensação de segurança”, porém o contexto se cria com uma diferença extrema do que se refere ao poder aquisitivo, contempla a ideia de compra de direitos, a qual é evidente na narrativa.
A concepção do Estado Democrático de Direito, em que a soberania é popular, a qual deveria ser fundamental, é burlada de diversas formas: através de um conselho interno em que não há possibilidade de defesa, o “réu” não pode se defender e não tem saída, a sentença é a morte.
Com tudo isso, ressalta-se a falência dos valores e das instituições do Estado, policiais e judiciais compradas e silenciadas (corrupção), permitindo que a Justiça seja feita usando a “lei de talião” e sem nenhuma consequência aos agressores, um modelo da plutocracia em prática.
Ainda, em decorrência da plutocracia vê-se a coação, ameaça física e psicológica, em que se aceita sem questionar o que é de direito. Literalmente, os direitos vão sendo “despidos”, direito de segurança, direito de defesa, direito de ir e vir, direito à vida, etc.
E o que ocorre fora dos muros? A mãe e a irmã em busca do garoto sobrevivente, desaparecido, ambas desesperadas, todavia a polícia não tenta localizá-lo e finge que não o vê e ainda sofre a ameaça e agressão para manter-se em silêncio. Fatos tão evidentes no texto de Caldera, em que se refere as estatísticas não quantificadas, sobre os olhos de desconfiança, resulta na situação em que grande parte das pessoas que passam por eventos criminais não dão queixa, pois não acreditam na polícia, vezes por medo de retaliação ou vingança, vezes por resolverem os problemas sozinhos, etc.
No decorrer da história, exemplos de grandes muros, tais como: a Grande Muralha da China, construída entre 200a.c. a 206a.c com objetivo de assegurar a Cidade de invasores com objetivo de segurança militar, o que restou tornou-se ponto turístico, o muro de Berlim, construído na Guerra Fria (1961) com o objetivo de separar a Alemanha Ocidental da Oriental, e recentemente o conhecido muro construído no governo de Donald Trump (2017-2018) na
fronteira do México com os EUA, para conter a imigração ilegal, muro não concluído e com a obra parada após intervenção de Joe Biden.
Necessariamente, não precisa ter muros para haver deterioração dos valores e das relações sociais. Os muros construídos ao longo da história e citados acima, demonstram um objetivo comum das sociedades em criar barreiras entre pessoas, as quais muitas dessas tem um contexto social e não somente de sobrevivência, tal como o muro americano.
Assim como, no cenário brasileiro em diversas cidades vê-se uma mudança na paisagem urbana. A cerca de 3 décadas atrás, ainda era possível ver pessoas e crianças brincando nas ruas, vizinhos se encontrando no fim de tarde para confraternizar ou apenas para conversar, o que se vê atualmente, assim como, citado por Caldeira apud Chico Buarque sobre um novo modo de vida na sociedade brasileira, os “chamados enclaves fortificados”, pessoas de classe média e alta que vivem nesses espaços.
Existe uma mudança no que se refere o padrão de sociedade e traz consigo a questão de “segregação espacial e o caráter do espaço público e das interações públicas entre as classes”, além de ficar evidente que não se trata apenas de lazer, mas muitas pessoas buscam esses espaços por segurança.
Todavia, não é um modelo de perfeição, pois citado assim por Caldeira, algumas questões referentes a regulamentos e problemáticas de convivência, entre elas, o fato de jovens sem limites, os quais carregam consigo esse modo de vida para fora dos muros.
Muito se vê do “marketing” excessivo para venda de propriedades, enfatizando, a segurança diante dos muros, cercas, câmeras, portões eletrônicos, portarias informatizadas, etc., o que difere consideravelmente dos cortiços de meados de 1928 em São Paulo e outras cidades brasileiras. E relação a expansão das cidades a partir do centro, fica clara as divisões em zonas.
As classes médias e altas, acabam se afastando dos grandes centros e mudam de opinião em relação moradias afastadas e buscam por condomínios fechados, os quais não eram bem-vistos, anteriormente, por essa massa da população.
Porém, ainda existem pessoas que não querem renunciar a suas propriedades tradicionais, indiferente de sua localização, fato associado a um “apelo” em um “velho estilo de vida”.
Ainda, versando a ótica referente ao assunto anteriormente descrito, faz-se alusão ao que ocorre na cidade do Rio de Janeiro, envolta por favelas, em que a elite se concentra na parte interna da cidade, um local turístico onde os problemas são “mascarados” pela própria sociedade que a compõe. Muitas vezes a “lei” que acontece na favela, funciona melhor para os que nela habitam, do que a própria lei do Estado, visto que está última geralmente não os favorece. Sendo uma minoria prevalente, em detrimento a uma maioria, pobre, e sem muitos recursos.
Em exemplo, decorrente e exposto na mídia (2021), o caso de Belford Roxo, três garotos estão desaparecidos e o delegado que investiga o caso relatou “reação do tráfico”, e que a justificativa seria um suposto a um suposto roubo de pássaro.
Outro fato a ser observado, decorre da ação na cena do filme em que a multidão lincha o garoto, ao fazer “justiça com as próprias mãos”.
Corroborando, é visto com frequência, em redes sociais, pessoas julgando as demais de modo indiscriminado, ainda casos que nem sempre são de conhecimento público de vingança ou linchamento coletivo, problemas ocasionados pela convivência diária de cada um em sociedade.